terça-feira, 31 de março de 2009

Quem ganha com a crise...

... no caso de descoberta de algum vazamento, tem-se que providenciar seu estancamento para, então, depois se encher a caixa d’água...”.

Metáfora mais inteligível o Presidente Lula não poderia encontrar para dar seu recado aos geradores da crise internacional, da qual os países emergentes, como o Brasil, sofrem as conseqüências. Aproveitou sua presença em Viña del Mar, Chile, onde ocorria a Cúpula de Lideres Progressistas, ao lado do premier britânico Gordon Brow, do Vice-Presidente dos EUA, Joe Biden, do chefe do governo espanhol, José Luís Sapatero, da Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e do Presidente do Uruguai, Tabaré Vásquez.

Enquanto isso, suas declarações da semana passada, que ganharam acústica na imprensa internacional, destacando-se jornais como os ingleses The Times e Financial Times, - “... a crise foi causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que, antes de tudo e agora, demonstra não saber de nada...” - causavam frisson, no Brasil.

Como o Presidente Lula utilizou metáforas – e “metáforas não se explicam, são óbvias e cada um tem sua versão” (“seu entendimento”, aperfeiçoaríamos) explicou, também em Viña del Mar, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia – permitiu as mais desbaratadas especulações dos mais infelizes críticos, ávidos em buscar brechas para exercer a crítica. Crítica não convincente... diga-se de passagem!

Evidentemente que a declaração de Lula “não teve qualquer conotação racista...”. Foi uma crítica aos autores e, ao mesmo tempo, beneficiários da crise...

Foram os banqueiros (e especuladores) que desmoralizaram e implodiram o mercado de crédito nos EUA!

A partir do Governo Ronald Reagan (1981–1989), os EUA optaram pela desregulamentação e da liberdade para o mercado. Nos últimos anos (governo Bush), isso se ampliou, sob a direção do então Presidente do FED (o banco central norte-americano), Alan Greenspan.

OBAMA E OS BANCOS: LÁ!

Agora, o Presidente Obama tem reiterado a intenção de seu governo em aumentar a regulamentação e supervisão sobre o mercado financeiro.

Reparem que, hoje, no Brasil, que defende o contrário – a descontrolada ação libertária do nosso Banco Central do Brasil – é o governador de São Paulo, e pré-candidato do PSDB à Presidência da República brasileira, José Serra. É quase sua total privatização!

Após o desastre que se seguiu à quebra do banco Lehman Brothers, em setembro, e aos resultados do último trimestre de 2008 (que levaram à intervenção estatal), os bancos norte-americanos teriam voltado a sofrer grandes perdas no último mês. “Março foi um mês muito duro...”, afirmou, após o encontro com Obama, faz poucos dias, o presidente do JP Morgan, Chase, Ken Lewis.

Obama reiterou a intenção de seu governo de aumentar a regulamentação e a supervisão sobre o mercado financeiro.

Hoje, os bancos norte-americanos são acompanhados de perto pela FDIC, agência federal que garante os depósitos bancários. Mas há muitos produtos oferecidos pelos bancos e por braços financeiros de empresas, nos últimos anos, que escapam dessa fiscalização. Também estão fora do radar da SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA). Obama quer mudar isso, através de nova legislação federal.

Até o ex-presidente do FED, Alan Greenspan, admite que “um novo sistema e controle tornou-se necessário, porque algumas instituições se tornaram grandes demais para quebrar, o que levanta preocupações sobre riscos sistêmicos (quando um fato isolado compromete todo o resto)...”, opinou.

Como observou Fernando Canzian, correspondente da Folha SP, “o ex-presidente do FED agora defende (coisa que não fez no passado) que os grandes bancos acumulem mais garantias reais, do que o fazem hoje para garantir suas operações. Na prática, isso tende a diminuir o poder de “alavancagem” (empréstimos sem garantias reais), que os bancos têm hoje.”.

A CRISE E OS BANCOS

A coisa mais estranha das reações à “crise”, encomendada pelos bancos e pelo grande empresariado – sobretudo transnacionais – que estimulou demissões em massa, redução das linhas de crédito, promovendo falta de confiança do próprio consumidor, é a chantagem a que é submetido o governo.

Depois de liberar parte do dinheiro retido (compulsório) como garantia operacional dos ativos bancários, o Banco Central, em nome do governo federal, para que os grandes bancos comprassem títulos e carteiras de créditos de instituições de menor porte, agora, oferece cerca de R$ 40 bilhões aos bancos, para que emprestem a seus clientes, pagando os bancos taxas menores que as praticadas, atualmente, pelo mercado financeiro.

- “Temos uma oferta de crédito maior. Esses bancos (de menor porte) vão captar a taxas mais baixas. Vão poder cobrar taxas mis baixas dos tomadores de empréstimos...”, explicou o Ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ora, por que o governo brasileiro precisa de intermediário? Por que oferecer estímulos financeiros a bancos, ainda que pequenos? Por que não emprestar, ele mesmo, diretamente, através de seus bancos oficiais? Que, por sinal, tem operado nas mesmas taxas escorchantes (em alguns casos, como do Banco do Brasil, com taxas maiores do que a média do mercado) da rede bancária privada...

TAXA DE JUROS

Mais de um trilhão de reais de dívida interna.

Taxas de juros fixada pelo COPOM a pagamento de juros de 11,25%.

É algo surpreendente – por que não dizer revoltante?

O fato suicida de o próprio governo fixar a extorsão de que é vítima! E ter impedido o cumprimento do preceito constitucional, através do qual fixava os juros anuais em 12%. Paradoxalmente, foi o saudoso Senador Jeferson Peres (PDT-AM) que liquidou formalmente com o artigo (das Disposições Transitórias), inserido pelo Deputado-Constituinte Fernando Gasparian (PMDB-SP).

E o fez, sob o argumento, pífio, de que “juros não podem ser fixados em lei. São frutos da demanda!”. O Senador manteve trajetória de retidão, no exercício do mandato senatorial (embora iniciado no partido de sustentação do neoliberalismo – o PSDB). Mudou para o PDT, no qual conquistou um segundo mandato, más parece que nunca tomou conhecimento de que, no Brasil, os juros são fixados pelo COPOM, organismo misto semi-privado, que dita normas ao Banco Central. Por coincidência, foi outro Senador, também, depois filiado ao PDT (antes era do PT), Cristovão Buarque, que perdeu à reeleição para o governo de Brasília (1998), defendendo a manutenção da equipe econômica e do então Ministro da Fazenda, Pedro Malan (agora UNIBANCO).

SPREAD

Além disso, o problema de crédito no Brasil não é a alta taxa de juros básica (SELIC), mas o “spread” bancário. E o spread se deslocou da SELIC. O spread (diferença entre a taxa que os bancos pagam pelo dinheiro que captam e a taxa pela qual emprestam esse mesmo dinheiro) é alto no Brasil, porque a SELIC é alta. E porque os bancos não precisam emprestar a pessoas e empresas para lucrar, basta que comprem títulos públicos indexados pelos juros estabelecidos pelo Banco Central.

SUPERAVIT PRIMÁRIO...

E chegou a hora, também, de se acabar com a contrafação que é o tal superávit primário! Ora, superávit tem que ser superávit, puro e simples! Para aumentar o superávit, até atrasar o pagamento de dívidas acontece. Aviltá-lo, como mero instrumento garantidor do pagamento dos juros, é acabar impedindo racionalidade na produtividade e rentabilidade...

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