domingo, 26 de abril de 2009

A desglobalização

A crise financeira global está solapando o desenvolvimento das nações. Conseqüência da crise financeira dos Estados Unidos – de várias modalidades (bancária, econômica, fiscal, previdenciária e, claro, creditícia!) – que reflete a fragilidade do seu sistema financeiro, sobretudo no tocante à avaliação de risco das operações de financiamento praticadas.

Grandes conglomerados, que compõem tal sistema atuam em diversos mercados internacionais, captando recursos para atender às necessidades de financiamento público e privado – consumo e investimento. Essa a razão pela qual a crise financeira americana afetou o crescimento da economia mundial.

O termo “desglobalização” tornou-se conhecido como uma proposta do economista filipino WALDEN BELLO. Veterano crítico do capitalismo, Bello prega um retrocesso no processo de integração mundial, para reduzir a dependência exterior.

Mas o que parece ser uma estratégia para Bello pode estar sendo precipitada pela crise, alerta, desde janeiro, o Primeiro-Ministro inglês, Gordon Brown, anfitrião da reunião do G20, em Londres:

- “Pela primeira vez vemos fluxos internacionais de capital crescerem menos que os domésticos e os bancos favorecerem empréstimos nacionais, em vez de estrangeiros.”.

No Brasil, que recebeu US$ 48 bilhões em 2008, o Banco Central estima que o fluxo cairá para a metade. As maiores vítimas disto são os países mais pobres.

Os combustíveis da integração são o comércio e o financiamento”, disse à Folha de SP (29/03/09) DANIEL KABERUKA, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento. Disse também:

- “Para os países ricos, a falta de acesso ao crédito significa perda de casas e empregos. Mas, na África são as vidas que estão em perigo.”.

O protecionismo é o grande fantasma de tudo isso! Brown, por exemplo, no exterior prega o livre comércio, mas defende “empregos britânicos para os britânicos”, quando está na Inglaterra.
Joseph Stiglitz – Prêmio Nobel de Economia de 2001 – defende um contrato social global, em que as nações desenvolvidas abririam seus mercados aos emergentes, em favor de um comércio com mais igualdade:

- “Se o ocidente aumentar o protecionismo, isso criará grande instabilidade e poderá reverter os avanços dos últimos anos. As reações serão inevitáveis. Com o aumento da pobreza, muitos governos terão argumentos bastante convincentes para resistir à globalização.”.

Stiglitz condena iniciativas como a cláusula “Buy American” dos EUA:

- “Pode não provocar efeitos concretos, mas tem enorme valor simbólico!”.

REFORMA DO CAPITALISMO

A globalização financeira deixou o mundo financeiro em sobressalto com a crise. Se o sistema financeiro internacional não for reconstruído com transparência, com padrões de governança e eficiência operacional, ficará injustamente desigual.

Há esperanças de que, afinal, o bom-senso prevaleça e uma reforma do capitalismo melhore-o, tornando-o co-responsável, compartilhado entre nações prósperas e emergentes, no qual cada sociedade será responsável pela sobrevivência econômica, prosperidade social e preservação ambiental das demais.”. (Ernesto Lozardo - Professor de Economia da EAESP – FGV)

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