sexta-feira, 17 de abril de 2009

Conspiração contra a poupança

Bancos e o próprio Banco Central falam em reduzir os rendimentos das cadernetas de poupança porque, segundo eles, há o risco dos especuladores tirarem o dinheiro dos títulos públicos, juntando-se aos pobres poupadores, que recebem, na poupança, metade do que recebem os especuladores de títulos.

Agora, até o Ministro Mantega e o Presidente Lula falam que é preciso mudar a poupança...
Ora, a caderneta de poupança, há décadas, é a única aplicação que a grande maioria (pobre) tem acesso no Brasil. Rende, apenas, a taxa referencial de juros (TR) que, desde o governo Collor, serve como (mau) índice de correção monetária da poupança e do FGTS – a, além disso, mais 0,5% ao mês de juros.

E, os depósitos nas cadernetas de poupança somam cerca de R$ 270 bilhões, enquanto os fundos de investimentos somam quase R$ 1,5 trilhão (que rendem a taxa do Banco Central - 0,95% ao mês), logo não há risco de fuga para a poupança, uma aplicação que tem prazo mínimo de um mês. Já o overnight “dos especuladores” oferece liquidez total (diária). Por isso, tem sustentado o caixa das empresas, cujo fluxo é de curto prazo. E a taxa básica dos juros (SELIC) é a remuneração mínima dos fundos, que investem, também, em títulos privados, não cabendo, pois, a comparação entre a remuneração da SELIC e a da poupança.

Aliás, porque não se desvincula a SELIC da dívida pública, como é feito no mundo inteiro? É regra geral que a taxa básica de juros de um País não pode remunerar título público!

DIFERENÇA DE RENDIMENTOS

Em 2008 a TR aplicada à poupança foi de, apenas, 1,68%, enquanto a inflação oficial, medida pelo IPCA, foi de 5,9%. Ou seja, a correção das cadernetas de poupança ficou 4,22 pontos abaixo da inflação. Os depósitos em cadernetas de poupança – apenas no último mês de março – já caíram R$ 884 milhões.

Enquanto isto, os títulos lastreados em títulos públicos ganharam R$ 9,49 bilhões neste ano. Considerando somente março, a engorda foi de R$ 4,61 bilhões. A gula dos bancos ainda chega à desfaçatez – apoiada pelo Banco Central – de propor a vinculação da caderneta de poupança a “uma parcela da taxa SELIC, exatamente no momento em que ela está caindo, e tende a cair ainda mais.

Há outra proposta – revestida do mesmo cinismo – agora com apoio oficial – que aplicaria mais um redutor à TR, o que, por sinal, afetaria, também, os depósitos do FGTS. Já de outras vezes, a justificativa foi a mesma: sem o confisco, os especuladores iriam “fugir” para a poupança!

O que, na verdade, está ocorrendo é uma conspiração dos bancos, que se querem apropriar de mais dinheiro da poupança. Querem pagar menos aos poupadores e diminuir a parte dos depósitos que é destinada à habitação, saneamento e infra-estrutura. Assim, poderiam utilizar este dinheiro para especular com títulos públicos, ou seja, sugar o dinheiro das receitas da União, que o povo paga em impostos, secando o Orçamento e impedindo investimentos sociais.

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